Gravado ao vivo durante o BEERiceira 2025, este episódio do Quem Bebe Por Gosto mergulha num dos temas mais fascinantes — e menos explorados — da cerveja artesanal: o mundo sensorial dos lúpulos.
Nesta conversa técnica e inspiradora, Chris Lewington (Brew Resourceful) e Francesco Lo Bue (consultor e mestre cervejeiro em Londres) partilham o que aprenderam ao longo de anos de experiência em cervejeiras de referência, revelando como o terroir, o clima, o solo e até o processamento pós-colheita podem alterar radicalmente o perfil aromático de uma mesma variedade de lúpulo.
O resultado é uma verdadeira aula de análise sensorial e ciência aplicada ao aroma, conduzida com humor, curiosidade e respeito por esse ingrediente que se tornou o símbolo da revolução craft.
Os lúpulos são muito mais do que um ingrediente: são uma assinatura.
Cada lote, cada colheita, cada origem pode trazer nuances completamente diferentes — e é precisamente isso que motiva a conversa entre Chris e Francesco.
Ambos partem de uma premissa comum: o lúpulo é um produto agrícola, vivo e mutável. E compreender as suas variações é essencial para garantir consistência, qualidade e autenticidade na cerveja final.
Durante o workshop, o Francesco descreve o processo sensorial de avaliar um lúpulo:
o aroma na palma da mão, as primeiras notas voláteis, as camadas de resina e óleos essenciais que evoluem ao longo dos segundos.
Mas o mais importante é a interpretação desses aromas — saber distinguir o que vem do terroir, o que resulta do armazenamento e o que depende do estilo de cerveja em que será usado.
Por outro lado, o Chris introduz uma perspetiva mais sistemática, lembrando que medir e registar são os primeiros passos para melhorar.
Segundo ele, analisar o sensorial dos lúpulos não é só uma questão de gosto — é uma ferramenta de controlo de qualidade.
Um dos pontos mais marcantes da conversa é a exploração do conceito de terroir aplicado ao lúpulo.
Da mesma forma que o solo e o clima influenciam o vinho, também no lúpulo as condições locais moldam profundamente o perfil aromático.
O Cascade cultivado em Espanha, por exemplo, não se comporta da mesma forma que o Cascade do Oregon: o primeiro tende a ser mais herbal e floral, enquanto o segundo revela notas cítricas e tropicais mais intensas.
Francesco explica que estas diferenças não são meramente curiosidades — são dados úteis para o cervejeiro.
Saber interpretar as variações ajuda a escolher o momento ideal de colheita, ajustar quantidades e prever resultados.
Já o Chris reforça a importância de visitar os produtores e criar relações diretas com as quintas de lúpulo, porque só assim se constrói confiança e se entende o que está por trás do produto.
Essa ligação entre campo e fábrica é, segundo ambos, o que vai distinguir as cervejeiras verdadeiramente sustentáveis e consistentes daquelas que apenas seguem modas.
Outro tema que domina o episódio é a ciência sensorial.
Ambos os convidados defendem que, por mais romântico que seja falar de “aroma e intuição”, o futuro da cerveja artesanal passa pela quantificação do sensorial.
Não se trata de eliminar o lado artístico, mas de complementá-lo com dados.
O Chris menciona que uma simples tabela de registos — com observações de intensidade, notas predominantes e tempo de dissipação — pode ajudar uma equipa a identificar variações de lote e a tomar decisões com base em evidência.
O Francesco, por sua vez, partilha a importância de criar painéis de prova sensorial internos, mesmo em microcervejeiras, para treinar o paladar e melhorar a linguagem comum entre a equipa.
“Se todos falarmos o mesmo idioma sensorial”, diz Francesco, “é muito mais fácil traduzir o que queremos que a cerveja seja”.
No workshop também há espaço para discutir o presente e o futuro da inovação no setor.
Os dois especialistas abordam as novas tecnologias de lúpulos concentrados e líquidos, que prometem aumentar a eficiência e reduzir desperdícios.
Mas a conclusão é clara: a tecnologia é uma ferramenta, não uma solução mágica.
Chris alerta que, embora os extratos possam ajudar a manter consistência e reduzir custos de produção, o seu uso deve ser ponderado — pois muitas vezes sacrifica-se complexidade aromática em nome da conveniência.
Francesco concorda, reforçando que o objetivo deve ser sempre o equilíbrio: “O que torna a cerveja artesanal especial é precisamente a diversidade. A tecnologia deve servir isso, não substituí-lo.”
Este episódio é especialmente relevante porque oferece valor prático tanto para profissionais como para entusiastas.
Mais do que uma conversa técnica, é uma reflexão sobre como respeitar a natureza e usar o conhecimento científico para tirar o máximo partido do que ela oferece.
O Sensory of Hops reflete também o espírito do BEERiceira 2025: um festival onde se bebe, mas sobretudo se aprende.
O facto de workshops como este atraírem tanto cervejeiros profissionais como curiosos mostra que há uma nova geração de consumidores que quer entender o que está no copo — não apenas bebê-lo.
É isso que move o Quem Bebe Por Gosto: transformar a curiosidade em conhecimento e o conhecimento em prazer.
🎧 Ouve agora o episódio completo “Sensory of Hops”, gravado ao vivo no BEERiceira 2025 — e descobre como o aroma da tua cerveja começa muito antes de chegar ao copo.





